SIPS revela percepções sobre a violência contra a mulher
Maioria dos consultados pelo Ipea acredita que comportamento feminino pode induzir ao estupro
Realizada entre maio e junho de 2013, uma nova rodada da pesquisa SIPS/Ipea (Sistema
de Indicadores de Percepção Social) divulgada nesta quinta-feira, 27,
revelou que 91% dos brasileiros defendem, totalmente ou parcialmente, a
prisão para homens que batem em suas companheiras. A tendência em
concordar com punição severa para a violência doméstica ultrapassa as
fronteiras sociais, com pouca variação segundo região, sexo, raça,
idade, religião, renda, ou educação: “78% dos 3.810 entrevistados
concordaram totalmente com a prisão para maridos que batem em suas
esposas”, afirma o documento.
No
entanto, esses dados não permitem pressupor um alto grau de
intolerância da sociedade brasileira à violência contra a mulher. Quase
três quintos dos entrevistados, 58%, responderam que “se as mulheres
soubessem se comportar, haveria menos estupros”. Quando a questão é se
“casos de violência dentro de casa devem ser discutidos somente entre os
membros da família”, 63% concordaram, total ou parcialmente. Da mesma
forma, 89% dos entrevistados concordaram que “a roupa suja deve ser
lavada em casa”; e 82% que “em briga de marido e mulher não se mete a
colher”.
De
acordo com os autores do estudo, as percepções manifestadas indicam que
a população ainda “adere majoritariamente a uma visão de família
nuclear patriarcal, ainda que sob uma versão moderna”. Assim, “embora o
homem seja ainda percebido como o chefe da família, seus direitos sobre a
mulher não são irrestritos, e excluem as formas mais abertas e extremas
de violência”.
Rafael
Osorio, diretor de Estudos e Políticas Sociais do Ipea, explicou que
outras formas de violência estão sendo percebidas pela população.
“Existe atualmente uma rejeição da violência física e simbólica –
xingamentos, tortura psicológica –, no entanto, 42% das pessoas
acreditam que a mulher é culpada pela violência sexual”, afirmou. Outro
fator que chama a atenção são os casos de estupro dentro do casamento.
“27% das pessoas concordam que a mulher deve ceder aos desejos do marido
mesmo sem estar com desejo, e esse é um dado perigoso.”
Variações
Inspirado
numa grande pesquisa nacional realizada na Colômbia, em 2009, que
investigou aspectos relacionados aos hábitos, atitudes, percepções e
práticas individuais, sociais e institucionais no que diz respeito à
violência de gênero, o SIPS também buscou outras opiniões relacionadas à
questão da discriminação e do sexismo.
Em
um sentido mais geral, 50% dos respondentes concordaram total ou
parcialmente com a afirmação “casais de pessoas do mesmo sexo devem ter
os mesmos direitos dos outros casais”. Entretanto, diante de uma
formulação mais incisiva, de que “o casamento de homem com homem ou de
mulher com mulher deve ser proibido”, mais da metade, 52%, concordaram
com a proibição.
Quando a
situação é ainda mais concreta, de explicitação de uma relação
homossexual em público, a oposição cresce: mais de 59% concordam total
ou parcialmente que “incomoda ver dois homens, ou duas mulheres, se
beijando na boca em público”.
Contribuições
Estiveram
presentes ao debate a secretária de Enfrentamento à Violência contra as
Mulheres, Aparecida Gonçalves, a técnica de Planejamento e Pesquisa do
Ipea Natália Fontoura, e Nina Madsen, do Centro Feminista de Estudos e
Assessoria (CFMEA), que fez a apresentação Entraves Institucionais ao Enfrentamento da Violência contra as Mulheres: construindo diagnósticos.
Aparecida
Gonçalves explicou que mesmo com a Lei Maria da Penha o número de
mulheres assassinadas com boletim de ocorrência registrado ainda é alto,
e por isso “todas as políticas públicas existentes devem ser preparadas
para atender as mulheres”. Segundo ela, “temos apenas 521 delegacias
especializadas para atender mulheres no Brasil, o que é pouco”.
Lourdes
Bandeira, secretária-executiva da Secretaria de Políticas para as
Mulheres, fez os comentários finais. Ela disse que a violência doméstica
é um tema delicado e que deve ser tratado com afinco. “Tratar a
violência doméstica é tratar o espaço, porque ele revela as relações de
intimidade e privacidade. Isso tanto para a violência física quanto
sexual”, concluiu.
LINK dos dados completos:
http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/SIPS/140327_sips_violencia_mulheres.pdf